quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Gomes Freire de Andrade

    Embora nunca apareça em cena, Gomes Freire de Andrade - amado pelo povo e odiado pelos governadores - é a personagem central e constitui o elemento estruturador da acção:
   - origina a sequência de episódios da peça
    - é o símbolo da luta pela Liberdade e pela Justiça;
    - atrai a admiração e a esperança do povo miserável e oprimido;
    - atrai, por oposição, a desconfiança e o ódio dos governadores
    - a sua prisão, condenação e execução constituem o centro das conversas e condicionam o comportamento das restantes personagens.
     Apesar de estar fisicamente ausente (de facto, nunca surge em cena / palco), domina os pensamentos e as preocupações das restantes personagens, daí que o seu retrato seja traçado a partir do que elas nos dão a conhecer sobre ele.

O general Gomes Freire de Andrade é apresentado como:
   - um homem culto, educado e letrado (um estrangeirado");
   - o símbolo da luta pela liberdade e pela defesa dos ideais contrários à prática dos "reis do Rossio";
   - o símbolo da modernidade e do progresso, adepto das novas ideias liberais, por isso considerado pelos governantes subversivo e perigoso, daí que preencha todos os requisitos para ser o bode expiatório do ambiente de revolta;
   - símbolo da integridade e da recusa da subserviência, da capacidade de liderança e de coragem na defesa dos ideais em que crê
   - culpado (pelos detentores do poder) porque "... é lúcido, é inteligente, é idolatrado pelo povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é, senhores, um estrangeirado..." (p. 71);
   - um homem cuja morte remete para a manutenção de uma ideologia fossilizada, num país estagnado e assolado pelo medo, pela denúncia e pela suspeição (p. 63);


Um homem cuja morte é duplamente aviltante enquanto militar, pois é enforcado e depois queimado, quando a sentença adequada para ele na qualidade de elemento do exército seria o fuzilamento; por outro lado, a morte pretende ser uma lição para todos aqueles que ousarem afrontar o poder político.

Fonte: http://portugues-fcr.blogspot.pt/2011_03_04_archive.html

Chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil em 1808

A Família Real no Brasil 
- Napoleão invade Portugal e força a vinda da corte portuguesa ao Brasil
- a Corte portuguesa chega ao Brasil em 1808 (instala-se no Rio de Janeiro)
- A Abertura dos Portos as nações amigas: Inglaterra
- Realizações de D.João: criação do Banco do Brasil, Jardim Botânico, Teatro Real, Imprensa Régia, Escola Médica 

O processo de Independência do Brasil
- portugueses exigem a volta da família real
- D.Pedro fica no Brasil como príncipe regente
- Portugal quer recolonizar o Brasil
- Dia do Fico (9 de janeiro de 1822) 

Independência do Brasil (1822) 
-com o apoio da elite, D.Pedro declara o Brasil independente ( 7 DE SETEMBRO DE 1822)
- Poucas mudanças após a Independência: permanece a escravidão / monarquia / povo não participou
- apoio da Inglaterra 

A Constituição da Mandioca (1824)
- voto censitário (por rendas)
- poder Moderador do Imperador (absolutista) 

Conflitos no Império

- Confederação do Equador (movimento separatista em PE)
- derrota na Guerra da Cisplatina (Brasil perde a região do atual Uruguai)
- ataques da imprensa ao imperador D. Pedro I
- descontentamento do povo
- abdicação de D.Pedro I em 1831     


Fonte: http://www.sohistoria.com.br/resumos/familiaportuguesa.php

Conspiração de Lisboa (1817)

Libertado Portugal da ocupação das tropas francesas, e após a derrota definitiva de Napoleão Bonaparte (1815), formou-se em Lisboa o "Supremo Conselho Regenerador de Portugal e do Algarve", integrado por oficiais do Exército e Maçons, com o objectivo de expulsar os britânicos do controlo militar de Portugal, promovendo a "salvação da independência" da pátria.

   Este movimento, liderado pelo General Gomes Freire de Andrade, durante o seu breve período de existência, esforçou-se no planeamento da introdução do liberalismo em Portugal, embora não tenha conseguido atingir os seus propósitos finais.

   Denunciado em Maio de 1817, a sua repressão conduziu à prisão de muitos suspeitos, entre os quais o general Gomes Freire de Andrade, Grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (1815-1817), acusado de líder da conspiração contra a monarquia de João VI de Portugal, em Portugal continental representada pela Regência, então sob o governo militar britânico de William Carr Beresford.


   - Em outubro de 1817, o tribunal considerou culpados de traição à pátria e sentenciou à morte, por enforcamento, doze acusados. As execuções de José Ribeiro Pinto, do major José da Fonseca Neves, de Maximiano Dias Ribeiro (todos maçons), e de José Joaquim Pinto da Silva, do major José Campello de Miranda, do coronel Manuel Monteiro de Carvalho, de Henrique José Garcia de Moraes, de Antônio Cabral Calheiros Furtado de Lemos, de Manuel Inácio de Figueiredo e Pedro Ricardo de Figueiró (possivelmente maçons), tiveram lugar no dia 18, no Campo de Santana (hoje Campo dos Mártires da Pátria). O general Gomes Freire de Andrade, foi executado na mesma data, no Forte de São Julião da Barra.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_liberal_do_Porto

Biografia de Sttau Monteiro

   Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro nasceu no dia 03/04/1926 em Lisboa e faleceu no dia 23/07/1993 na mesma cidade.
   
   Partiu para Londres com dez anos de idade, acompanhando o pai que exercia as funções de embaixador de Portugal. Regressa a Portugal em 1943, no momento em que o pai é demitido do cargo por Salazar.
   
   Licenciou-se em Direito em Lisboa, exercendo a advocacia por pouco tempo. Parte novamente para Londres, tornando-se condutor de Fórmula 2.
   
   Regressa a Portugal e colabora em várias publicações, destacando-se a revista Almanaque e o suplemento "A Mosca" do Diário de Lisboa, e cria a secção Guidinha no mesmo jornal.
   
   Em 1961, publicou a peça de teatro Felizmente Há Luar, distinguida com o Grande Prémio de Teatro, tendo sido proibida pela censura a sua representação. Só viria a ser representada em 1978 no Teatro Nacional.
  
   Foram vendidos 160 mil exemplares da peça, resultando num êxito estrondoso. Foi preso em 1967 pela Pide após a publicação das peças de teatro A Guerra Santa e A Estátua, sátiras que criticavam a ditadura e a guerra colonial.
  
    Em 1971, com Artur Ramos, adaptou ao teatro o romance de Eça de Queirós A Relíquia, representada no Teatro Maria Matos.

  
    Escreveu o romance inédito Agarra o Verão, Guida, Agarra o Verão, adaptada como novela televisiva em 1982 com o título Chuva na Areia.Obras – Ficção: Um Homem não Chora (romance, 1960), Angústia para o Jantar (romance, 1961), E se for Rapariga Chama-se Custódia (novela, 1966). Teatro: Felizmente Há Luar (1961), Todos os Anos, pela Primavera (1963), Auto da Barca do Motor fora da Borda (1966), A Guerra Santa (1967), A Estátua (1967), As Mãos de Abraão Zacut (1968).

Fonte: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/mobile/correntes/sttau.htm

O Teatro Épico

   Foi Bertolt Brecht o teorizador do teatro épico. As suas peças revelam a doutrina do teatro épico, que procura representar o mundo e o homem como realidade em constante devir.
   Trata-se de um teatro "moderno", que se opõe ao teatro aristotélico (de forma dramática), criando, então, o termo épico, sinónimo de narrativo (narra acontecimentos que envolvem o espectador).
Brecht elaborou uma tabela que representa as características de um teatro épico por contraste com um teatro de forma dramática.
   Sintetizámos a tabela nos seus aspectos mais relevantes:
   Um dos elementos mais marcantes do teatro épico é o chamado efeito de distanciação.           
   Tal efeito está ligado à técnica que confere aos acontecimentos representados um "cunho de sensacionalidade", deixando estes de ser evidentes e naturais. O objectivo desta técnica de distanciamento é proporcionar ao espectador uma análise e uma crítica dentro de uma perspectiva social.
   O teatro épico tem incontestavelmente uma função social, que conduz o espectador a uma apreciação crítica não apenas do que está a ser representado mas também da sociedade em que se insere. O distanciamento causa uma espécie de "efeito de alienação", desviando, assim, o público do caso narrado.       Logo, uma vez não identificado com o mundo cénico, vê de fora a sua própria situação social reflectida no palco.
   Através desta técnica, estuda-se o comportamento humano em determinadas situações, levando o público a tomar consciência de que tudo pode e deve ser modificado, exigindo dele a tomada de decisões.

Fonte: http://storamjoao.blogspot.pt/2008/11/o-teatro-pico.html

Texto Dramático

É constituído por:
Texto principal composto pelas falas dos actores que é ouvido pelos espectadores;
Texto secundário (ou didascálico) que se destina ao leitor, ao encenador da peça ou aos actores.

            É composto:
      * pela listagem inicial das personagens;
      * pela indicação do nome das personagens no início de cada fala;
      *pelas informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em actos, cenas ou quadros);
      * pelas indicações sobre o cenário e guarda roupa das personagens;
      *pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que   devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir as palavras.

             Acção – é marcada pela actuação das personagens que nos dão conta de acontecimentos vividos.
      *Estrutura externa – o teatro tradicional e clássico pressupunha divisões em actos, correspondentes à mutação de cenários, e em cenas e quadros, equivalentes à mudança de personagens em cena.
O teatro moderno, narrativo ou épico, põe completamente de parte as normas tradicionais da estrutura externa.
      *Estrutura interna:
Exposição – apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.
Conflito – conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.
Desenlace – desfecho da acção dramática.

           Classificação das Personagens
      *Quanto à sua concepção:
Planas ou personagens-tipo – sem densidade psicológica uma vez que não alteram o seu comportamento ao longo da acção. Representam um grupo social, profissional ou psicológico);
Modeladas ou Redondas – com densidade psicológica, que evoluem ao longo da acção e, por isso mesmo, podem surpreender o espectador pelas suas atitudes.
      *Quanto ao relevo ou papel na obra:
      -protagonista ou personagem principal Individuais
      -personagens secundárias
      -figurantes ou colectivas
     
-   Tipos de caracterização:
 *Directa – a partir dos elementos presentes nas didascálias, da descrição de aspectos físicos e psicológicos, das palavras de outras personagens, das palavras da personagem a propósito de si própria.
 *Indirecta – a partir dos comportamentos, atitudes e gestos que levam o espectador a tirar as suas próprias conclusões sobre as características das personagens.

          Espaço
 *Espaço cénico é caracterizado nas didascálias onde surgem indicações sobre pormenores do cenário, efeitos de luz e som. Coexistem normalmente dois tipos de espaço:
 *Espaço representado – constituído pelos cenários onde se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em palco.
 *Espaço aludido – corresponde às referências a outros espaços que não o representado.

        Tempo
 *Tempo da representação – duração do conflito em palco;
 *Tempo da acção ou da história – o(s) ano(s) ou a época em que se desenrola o conflito dramático;
 *Tempo da escrita ou da produção da obra – altura em que o autor concebeu a peça.

        Discurso dramático ou teatral
 *Monólogo – uma personagem, falando consigo mesma, expõe perante o público os seus pensamentos e/ou sentimentos;
 *Diálogo – falas entre duas ou mais personagens;
 *Apartes – comentários de uma personagem que não são ouvidos pelo seu interlocutor.
 *Além deste tipo de discurso, o tecto dramático pressupõe o recurso à linguagem gestual, à sonoplastia e à luminotécnica.

         Intenção do autor - pode ser:
 *Moralizadora;
 *Lúdica ou de evasão;
 *Crítica em relação à sociedade do seu tempo;
 *Didáctica.

        Formas do género dramático:
 *Tragédia
 *Comédia
 *Drama
 *Teatro Épico.
          
        Outra característica Importante:
 *Ausência de narrador

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Sebastianismo


Morto D. Sebastião em Alcácer Quibir, e tendo sido Portugal anexado pela Espanha em 1580, Portugal estava perante o período mais negro da sua História: perdera toda a opulência e grandiosidade do início do século, com a batalha de Alcácer Quibir perdeu o melhor da sua juventude e dos seus militares, ficou endividado com o pagamento dos resgates e sofreu o domínio castelhano, que o vai oprimir. Nasce então uma versão particular de messianismo, sobretudo de influência judaica, o Sebastianismo: crê-se que toda esta opressão, todo este sofrimento, toda esta miséria, toda esta crise será vencida com o aparecimento de D. Sebastião (numa manhã de nevoeiro...), que libertará Portugal dos castelhanos e da sua opressão e lhe restituirá a antiga grandeza. Defende-se que D. Sebastião não morreu nem podia ter morrido. E aparecem então os falsos "D. Sebastião", tendo sido presos uns e mortos outros. Este sonho é sustentado e difundido por várias pessoas e de várias maneiras, em que sobressaem as Trovas do Bandarra de Trancoso - e, já no nosso século, a Mensagem de Fernando Pessoa. Primeiro clandestinamente, depois mais à luz do dia, esse movimento influencia a revolta do Manuelinho de 1637, em Évora, e vai propiciar o 1.o de dezembro de 1640, pelo entusiasmo posto na sua execução e pela confiança que a todos transmite.
O Sebastianismo transforma-se num mito: quando há épocas de crise aparece como uma esperança de melhores dias, de mais justiça e de maior grandeza. O mito (como é próprio dos mitos) foi sendo adaptado às realidades de cada momento. Em 1640, por alturas da restauração da independência nacional, era D. João IV o "Encoberto".


Interacção entre "O Mostrengo" (Mensagem) e "Adamastor" (Os Lusíadas)

[IV - O Mostrengo]

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
Fernando Pessoa
In Mensagem


37- Porém já cinco sóis eram passados
que dali nos partíramos, cortando
os mares nunca d'outrem navegados,
prosperamente os ventos assoprando,
quando ua noute, estando descuidados
na cortadora proa vigiando,
ua nuvem que os ares escurece,
sobre nossas cabeças aparece.

38- Tão temerosa vinha e carregada,
que pôs nos corações um grande medo;
bramindo, o negro mar de longe brada,
como se desse em vão nalgum rochedo.
"Ó Potestade (disse) sublimada:
que ameaço divino ou que segredo
este clima e este mar nos apresenta,
que mor cousa parece que tormenta?"

39- Não acabava, quando ua figura
se nos mostra no ar, robusta e válida,
de disforme e grandíssima estatura;
o rosto carregado, a barba esquálida,
os olhos encovados, e a postura
medonha e má e a cor terrena e pálida;
cheios de terra e crespos os cabelos,
a boca negra, os dentes amarelos.
Adamastor

In Os Lusíadas

Semelhanças:
• Representação da forma invencível do mar;
 • Representação de um marinheiro, que ambiciona o mar;
• Demonstrar o valor dos portugueses através da sua coragem e determinação;
• Personificação dos receios e perigos do mar desconhecido;

Diferenças:
 •Forma como aterroriza
•Forma como é vencido
•Retrato
•Interlocutor

D. Dinis

O Mostrengo, Fernando Pessoa

3ª parte - O Encoberto "Nevoeiro"

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo - fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer,
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!



          O poema aponta claramente para um clima de degradação da pátria, de melancolia e tristeza, enfatizado pelo recurso a palavras e expressões que revelam negatividade ("Nem rei nem lei"; "Brilho sem luz", etc.), em suma, um ambiente de crise a vários níveis: político ("Nem rei nem lei, nem paz nem guerra"); moral ("Ninguém sabe que coisa quer, / (...) nem o que é mal, nem o que é bem"); de identidade ("ninguém conhece que alma tem"). A situação de Portugal era, portanto, de incerteza e indefinição. Ontem, tal como hoje: "Ó Portugal, hoje és nevoeiro...".

2ª parte - Mar Português "O Mar Português"

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena?
Tudo vale a pena,
Se não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu
Mas nele é que espelhou o céu.


Trata-se de um poema da segunda parte – Mar Português – da Mensagem- colectânea de poemas de Fernando Pessoa, escrita entre 1913 e 1934, data da sua publicação. Esta obra contém poesia de índole épico-lírica participando assim das características deste dois géneros. Relativamente à sua matriz épica devemos destacar o tom de exaltação heróica que percorre esta obra; a evocação dos perigos e dos desastres bem como a matéria histórica ali apresentada. No atinente à sua dimensão lírica, podemos destacar a forma fragmentária da obra, o tom menor, a interiorização da matéria épica, através da qual sujeito poético se exprime.
Nesta segunda parte da obra que nos propomos analisar abordam-se o esforço heróico na luta contra o Mar e a ânsia do Desconhecido. Aqui merecem especial atenção os navegadores que percorreram o mar em busca da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio (realização terrestre de uma missão transcendente).

1ª Parte - O Brasão "D. Dinis"

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o Oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.

Trata-se de um poema da primeira parte – o Brasão – da Mensagem- colectânea de poemas de Fernando Pessoa, escrita entre 1913 e 1934, data da sua publicação. Dentro desta integra-se nos Castelos à semelhança do poema Ulisses. Esta obra contém poesia de índole épico-lírica participando assim das características deste dois géneros. Relativamente à sua matriz épica devemos destacar o tom de exaltação heróica que percorre esta obra; a evocação dos perigos e dos desastres bem como a matéria histórica ali apresentada. No atinente à sua dimensão lírica, podemos destacar a forma fragmentária da obra, o tom menor, a interiorização da matéria épica, através da qual sujeito poético se exprime.
Nesta primeira parte da obra que nos propomos analisar aborda-se a origem, a fundação o princípio de Portugal. O título D. Dinis remete-nos para os primórdios da nossa nacionalidade, assumindo assim o poeta a perspectiva longínqua de D. Dinis, observando no século XX à posterior empresa dos Descobrimentos.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Simbologia

Símbolos

Que a Mensagem se situa no plano dos símbolos, parece não haver dúvidas se atentar­mos na epígrafe à obra de inspiração esotérica: Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum («Bendito Deus Nosso Senhor que nos deu o Sinal»). Certa é, pois, a importância que Pessoa consagra aos símbolos (esotéricos ou não), desde logo atestada no título de uma das divi­sões da Terceira Parte da obra. Cinco são os poemas que aí receberam o nome genérico de «Os Símbolos». Cinco é o número do despertar da consciência adorme­cida e da reinvenção do dia claro, tópicos que inspiram largamente o conteúdo do segundo dos símbolos – o Quinto Império:

Note que a ligação de D. Sebastião, o pri­meiro dos símbolos, ao Quinto Império se faz através do sonho: «É o que me sonhei que eterno dura,/ É Esse que regressarei.». É ainda pela virtude do sonho que este D. Sebastião sacralizado, alma do futuro de Portu­gal e profeta que a si próprio se anuncia, se faz Desejado, no terceiro dos símbolos. O sonho torna-se esperança e refugia-se nas ilhas afortunadas, símbolo da felicidade adiada, onde «o Rei mora esperando» e donde regressará como o Encoberto, o quinto dos símbolos.

Mas Cinco é, igualmente, o despertar do centro, dos quatro elementos que compõem o universo:

D. Sebastião – a água (ou a alma);

Quinto Império – o fogo (ou o espírito);

O Desejado – o ar (a mente, a revelação);

As ilhas Afortunadas – a terra (a materialidade, a protecção).

O quinto dos símbolos – o Encoberto ­representa a harmonia, a perfeição com que esses elementos se conjugam no universo sonhado.

Símbolos são, ainda, todos os heróis que a obra celebra, transfigurados em almas do Portugal futuro que enigmaticamente pre­nunciam.

A estrutura tripartida

A estrutura
· A Mensagem está dividida em três partes. Esta tripartição corresponde a três momentos do Império Português: nascimento, realização e morte. Mas essa morte não é definitiva, pois pressupõe um renascimento que será o novo império, futuro e espiritual.
Mensagem (Resumido)

1. Nascimento – 1ª Parte “Brasão”Fundação da nacionalidade, desfile de heróis lendários ou históricos, desde Ulisses a D. Afonso Henriques, D. Dinis ou D. Sebastiao.
2. Realização – 2ª Parte “Mar Português”Poemas inspirados na ânsia do Desconhecido e no esforço 
heróico da luta com o mar. Apogeu da acção portuguesa dos Descobrimentos, em poemas como “O Infante”, “O Mostrengo”, “Mar Português”.

3. Morte – 3ª Parte “O Encoberto”Morte das energias de Portugal simbolizada no “nevoeiro”; afirmação do sebastianismo representado na figura do “Encoberto”; apelo e ânsia messiânica da construção do Quinto Império.

Genero epico lirico da mensagem Fernando Pessoa

A obra de Fernando Pessoa Mensagem que, dando continuidade à poesia épica, pois «é marcada por um tom messiânico, a profetizar a renovada grandeza da pátria, mediante a instauração do Quinto Império» (p. 311), vai destacar-se também como criação poética que é expressão da subjectividade do sujeito poético, evidenciando marcas do texto lírico. Como apresenta características desses dois géneros/modos literários, é atribuída à Mensagem o estatuto de texto épico-lírico. Citando Jacinto do Prado Coelho (Dicionário de Literatura), «a poesia da Mensagem é uma poesia épica sui generis, melhor diríamos epo-lírica, não só pela forma fragmentária como pela atitude introspectiva, de contemplação no espelho da alma, e pelo tom menor adequado. […] Dum modo geral interioriza, mentaliza a matéria épica, integrando-a na corrente subjectiva, reduzindo essa matéria a imagens simbólicas pelas quais o poeta liricamente se exprime. Há assim na Mensagem uma dupla face de tédio e ansiedade, de céptica lucidez e intuição divinatória.»
Tanto o texto épico com o texto épico-lírico têm sido aqui tratados, tendo como referência Os Lusíadas, de Camões, eMensagem, de Fernando Pessoa, porque estas são as obras nacionais mais representativas desses dois textos. De qualquer forma, importa ter sempre em conta que o texto lírico se caracteriza como a forma literária centrada na subjectividade, como «modalidade de expressão que escapa aos preceitos da imitação» (p. 78), o que o distingue da poesia épica ou narrativa, pois enquanto a poesia épica ou narrativa «se centra na terceira pessoa e na função referencial», o lirismo define-se, antiteticamente, pela presença dominante da primeira pessoa do presente e pela consequente hegemonia da função emotiva e da carga patética que ela envolve.» (p.80)


Mas, apesar de lírico e épico serem definidos como textos antitéticos, a Mensagem provou que é possível criar uma obra que contenha as duas formas literárias, sabendo conciliar a matéria épica de exaltação de um passado heróico com a expressão lírica da atitude intencionalmente introspectiva, evidenciando-se como texto poético épico-lírico.

Significado do titulo "Mensagem"

Como bem indica o insigne pessoa no António Quadros no seu artigo «O título da Mensagem» (in Mensagem, Edição Crítica de José Augusto Seabra, Fundação Eng. A. Almeida, 1993, págs. 229 e segs.), à primeira vista "Mensagem" parece significar apenas isso - uma missiva, uma comunicação. E, num primeiro grau, este é um significado aceitável, visto tratar-se de um livro hermético, com uma mensagem oculta, que ao ser recebida inicia o recipiente nos mistérios que ela própria contém.

No entanto o primeiro título do livro não era "Mensagem", mas sim "Portugal". É por sugestão de um amigo - Da Cunha Dias - que Pessoa reconsidera, mudando o nome. Esse amigo ter-lhe-á indicado a evidência do nome "Portugal" estar já nessa altura demasiado vulgarizado, inclusive em marcas comerciais.

Curiosamente - ou talvez propositadamente - "Mensagem" é uma palavra com o mesmo número de letras de "Portugal". Mas uma folha no espólio explica o processo porque passou a génese deste título, que foi muito bem pensado pelo seu autor.

São os seguintes significados os encontrados nessa folha:

1. Portugal e Mensagem têm 8 letras. O oito é um número de harmonia, mas também um número ligado aos templários, mais precisamente à cruz Templária que tem 8 pontas. É a mesma cruz que depois vai nas caravelas, já cruz de da Ordem de Cristo, seguimento natural dos Templários depois da extinção destes por ordem Papal. Assim, Pessoa num primeiro sentido diz-nos que a "Mensagem" é "Portugal" e que "Portugal" é a realização da missão da Ordem de Cristo e - por descendência - da Ordem do Templo.

2. "Mensagem" é ainda dividida por Pessoa em 3 partes: MENS/AG (ITAT MOL) EM. "Mens Agitat Molem" é uma citação tirada de Virgílio na Eneida, que significa que a mente move a matéria. O objectivo da "Mensagem" seria mover as moles humanas, através da poesia.

3. Da palavra "Mensagem" Pessoa tira ainda outro significado, sublinhando ENS e GEMMA, para formar a expressão ENS GEMMA. Ou seja, ente em gema, ou ovo. É Portugal em essência, em gema. Significado também potencialmente mágico, encantatório: para os alquimistas o ovo filosófico é germe de vida espiritual, do qual deverá eclodir o ouro da sabedoria. No ovo, concentram-se todas as possibilidades de criar, recriar, renovar e ressurgir. Ele é a prova e o receptáculo de todas as transmutações e metamorfoses.

4. Noutra última hipótese, Pessoa escreve:

MENSA GEMMARUM ou mesa das gemas. Altar ou mesa onde repousam as gemas Portuguesas – Portugal, e onde se procede ao sacrifício para a realização do sagrado superior. Neste significado, Portugal seria o altar onde os sacrifícios foram realizados em nome do divino.

5. Finalmente Pessoa pega na palavra “Mensagem” e corta-a para fazer MEA GENS ou GENS MEA, ou seja, minha gente ou gente minha, minha família.

É a raça de heróis com que Pessoa se identifica e que nomeia ao longo do texto da “Mensagem”

Biografia Fernando Pessoa

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta, filósofo e escritor português.


Fernando Pessoa é o mais universal poeta português. Por ter sido educado na África do Sul, numa escola católica irlandesa, chegou a ter maior familiaridade com o idioma inglês do que com o português ao escrever os seus primeiros poemas nesse idioma. O crítico literário Harold Bloom considerou Pessoa como "Whitman renascido",e o incluiu no seu cânone entre os 26 melhores escritores da civilização ocidental, não apenas da literatura portuguesa mas também da inglesa.



Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa traduziu várias obras em inglês (de Shakespeare e Edgar Poe) para o português, e obras portuguesas (nomeadamente de António Bottoe Almada Negreiros) para o inglês.



Enquanto poeta, escreveu sob múltiplas personalidades – heterónimos, como Ricardo Reis, Álvaro de Campos eAlberto Caeiro –, sendo estes últimos objeto da maior parte dos estudos sobre a sua vida e obra. Robert Hass, poeta americano, diz: "outros modernistas como Yeats, Pound, Elliot inventaram máscaras pelas quais falavam ocasionalmente... Pessoa inventava poetas inteiros

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Os Lusíadas - Reflexões do Poeta

Luís de Camões, n´Os Lusíadas, não consegue calar a voz crítica da sua consciência nem a sua emoção. Então, interrompendo o tom épico, como os bons clássicos de Roma e Grécia, umas vezes, a sua palavra ganha uma feição didáctica, moral e severamente crítica; outras vezes, expressa o lamento e o queixume de quem sente amargamente a ingratidão, ou os desconcertos do mundo.


Na primeira reflexão d’Os Lusíadas sobre a insegurança da vida, Camões reage à traição protagonizada por Baco, lamentando-se da personalidade escondida dos seres humanos. Estabelece um paralelismo entre os perigos encontrados no mar e em terra, verificando que em nenhum dos ambientes há segurança absoluta. Na sequência disto, reflecte sobre a posição do ser humano face à natureza, já que na sua fragilidade e insegurança é capaz de atravessar mares e conquistar povos, ultrapassando com sucesso os diferentes obstáculos.


A reflexão sobre a dignidade das Artes e das Letras é um episódio marcadamente Humanista. Isto é observável noutras partes da obra pela demonstração da vitória do Homem sobre a Natureza e a vontade de saber e descobrir. No que se refere a este trecho específico, o Humanismo revela-se pela presença da componente pedagógica oferecida pelas “artes e letras” e pelo modelo de perfeição humana que é a capacidade de conjugar os feitos guerreiros com o conhecimento literário, objectivo conseguido pelos chefes da antiguidade (como seja o exemplo citado de César).


Camões alegra-se ao verificar que na Antiguidade sempre houve personagens protagonistas de feitos heroicos e simultaneamente autores capazes de os cantar condignamente. Em oposição, lamenta-se do facto de, apesar de os portugueses terem inúmeros feitos passíveis de serem louvados, não ser prezada a poesia, tornando-o num povo ignorante. Na sequência disto, caso continue a não haver em Portugal uma aposta nas artes, nunca ninguém exaltará os feitos dos portugueses. No entanto, Camões vai continuar a escrever a sua obra, por amor e gosto à arte de louvar, mesmo sabendo de antemão que o mais provável é não ver devidamente reconhecidos os seus versos.


No final do canto VI, Camões apresenta-nos o seu conceito de nobreza, recorrendo para isso à oposição com o modelo tradicional. Desta forma, o poeta nega a nobreza como título herdado, manifestada por grandes luxos e ociosidade. Propõe então, como verdadeiro modelo de nobreza, aquele que advém dos próprios feitos, enfrentando dificuldades e ultrapassando-as com sucesso. Só assim poderá superiorizar-se aos restantes homens e ser dignamente considerado herói. O estatuto será adquirido ao ver os seus feitos reconhecidos por outros e, mesmo contra a sua vontade, ver-se-á distinguido dos restantes.


Na reflexão que faz no início do canto VII, Camões faz um elogio ao espírito de cruzada e critica os que não seguem o exemplo português. Isto porque, para Camões, a guerra sem pretensões religiosas não faz sentido, visto ser apenas movida pela ambição da conquista de território. Assim, recorre ao exemplo do Luteranismo alemão para criticar a oposição ao Papa e às guerras que não seguem os ideais camonianos. Dirige-se depois aos ingleses, que deixam que os Muçulmanos tenham sob controlo a cidade de Jerusalém e preocupa-se apenas em criar a sua nova forma de religião (anglicanismo). Também os franceses, ao invés de combaterem os infiéis, aliaram-se aos turcos para combater outros cristãos. Nem os próprios italianos passam impunes, ao ser-lhes criticada a corrupção. Para incitar à conquista de povos não-cristãos, visto esta causa não ser suficiente, Camões lembra as riquezas da Ásia Menor e África, incitando desta forma a expansão. Termina elogiando os portugueses, que se expandiram por todo o mundotendo como fim primário a divulgação da fé.


Na segunda reflexão que faz no canto VII, Camões critica os opressores e exploradores do povo. Começa por uma retrospectiva da sua própria vida, com etapas como a pobreza, a prisão, o naufrágio, fazendo destas um balanço negativo. No entanto, para ele a maior desilusão continua a ser o facto de não vera sua obra devidamente reconhecida. Alerta portanto para o facto de os escritores vindouros se poderem também sentir desta forma, desencorajando a escrita e a exaltação dos heróis. Segue depois para uma crítica mais abrangente, afirmando que não louvará quem se aproxima do Rei tendo como intentos únicos a fama e o proveito próprio. Não louvará também aqueles que se inserem nos meios reais de forma a conseguirem poder para explorar o povo. Termina invejando aqueles que em serviço do Rei foram reconhecidos, já que ele se sente cansado pela forma como é tratado pelos compatriotas.


No final do canto VIII, Camões centra a sua reflexão nos efeitos perniciosos do ouro, constatando que a avidez em que vive o ser humano conduz muitas vezes a acções irreflectidas, independentemente da posição social. Lista todos os efeitos do metal precioso, desde traições à corrupção da ciência, ao afirmar que o ouro pode fazer com que os juízes deem demasiada importância a uma obra pelo facto de terem sido remunerados para tal.


No final da obra, Camões lamenta-se do facto de não estar a ser devidamente reconhecido, já que a sociedade se rege somente pelo dinheiro, decidindo por isso pôr-lhe termo. Não deixa no entanto de louvar os portugueses e todos os perigos por eles ultrapassados (definição camoniana de nobreza). Elogiando os heróis passados, alerta os homens do presente que a vida nobre não passa pelo ouro, cobiça e ambição. Exorta D. Sebastião a valorizar devidamente aqueles que pelos seus feitos se puderem considerar nobres. Correspondendo à visão aristotélica da epopeia, remata com novas proposição e dedicatória e incita o rei a feitos dignos de serem cantados.

A Ilha dos Amores

Depois de todas as etapas vencidas, os portugueses merecem descanso, que decorrerá na Ilha dos Amores, local concebido pelo épico, simbolizando a recompensa pela heroicidade, a satisfação dos sentidos e a harmonia no Universo. É aqui que os portugueses são mitificados e se tornam Deuses, como se verifica quando as Ninfas se entregam aos navegadores, alcançando a glória.


A Ilha dos Amores: exaltação dos navegadores como herói, capazes de ascensão à divinização. Recompensa pela heroicidade, pelas conquista/ Satisfação dos sentidos/ Posse de conhecimento/ Harmonia do universo.

Fogo de Santelmo e Tromba Marítima

Ambos os episódios são naturalistas e descrevem “cousas do mar” que os sábios não entendem mas que Vasco da Gama e a sua tripulação presenciaram. Camões faz uma breve referência a este “lume vivo“ salientado que os olhos dos marinheiros não os enganavam pelo uso de um pleonasmo do verbo ver = “Vi, claramente visto, o lume vivo”.
Este fogo aparece na extremidade dos mastros e vergas dos navios em altura de tempestade, e que resulta de descargas eléctricas.
A tromba marítima é reflectida como um enorme tubo que aumentava em direcção ao céu, partia de um “vaporzinho”, adensava-se chupando a água das ondas para uma nuvem que se carregava para esvaziar uma violenta chuvada sobre o oceano.
É feita a descrição em pormenor da formação da tromba de água, e nas duas últimas estrofes, o poeta salienta que os marinheiros por experiência própria, têm mais capacidades de explicar estes fenómenos naturais, do que os sábios que o fazem por meio de obras escritas, teóricas.

Velho do Restelo

No momento da largada ergue-se a voz de um respeitável velho que sobressai de entre todas as que se tinham feito ouvir até então. Ela representa todos aqueles que se opunham à louca aventura da Índia e preferiam a guerra santa no Norte de África.

Se as falas das mães e das esposas representam a reacção emocional àquela aventura, o discurso do velho exprime uma posição racional, fruto de bom senso da experiência (“tais palavras tirou do experto peito”) e do sentido das vozes anónimas ligadas ao cultivo da terra, sobretudo no norte do país, defensoras de uma política de fixação oposta a uma política de expansão com adeptos mais a sul.

E assim, o Gama que representa este homem sempre insatisfeito e que está disposto a enfrentar os mais difíceis obstáculos e a suportar os mais duros sacrifícios para conseguir o seu objectivo, tinha perfeita consciência da lógica, da verdade e sensatez das palavras do Velho do Restelo, da condenação moral da empresa mas não lhe podia dar ouvidos porque levava dentro de si um incentivo maior e mais forte, um dever a cumprir imposto pelo rei e pela pátria e até um imperativo ético e psicológico.

No entanto, as palavras pessimistas do velho acabam por evidenciar o heroísmo daquele punhado de homens tanto maior quanto mais consciente. O Velho do Restelo fala como um poeta humanista que exprime desdém pelo “povo néscio” ou seja, o clássico horror ao vulgo.

Há portanto uma contradição entre o discurso pacifista do velho e a épica exaltação dos heróis e seus feitos de armas. A personagem seria um porta-voz da ideologia característica da formação humorística de Camões.

O Velho do Restelo é o próprio Camões erguendo-se acima do encadeamento histórico e medindo à luz os valores do humanismo. Ele é o humanista que torna a palavra, humanista para quem os acontecimentos que lhe servem de tema constituem apenas o material para um poema e que reserva constantemente a sua liberdade de juízo.

DESPEDIDA EM BELÉM


DESPEDIDA EM BELÉM - Canto IV, 83-89


Foi no dia 8 de Julho de 1497 que a armada portuguesa, capitaneada por Vasco da Gama, partiu em procura do desconhecido. Uma enorme multidão concentrou-se na praia de Belém para assistir à partida dos marinheiros seus amigos ou familiares.
O tema deste excerto lírico, é emotivo do ponto de vista sentimental, pois é revelada uma enorme saudade por aqueles que vão “navegar” e por aqueles que ficam.
É um episódio constituído por uma primeira parte, em que se descreve o local da partida e o alvoroço geral dos últimos preparativos da viagem, estando as naus já preparadas e os nautas na ermida de Nossa Senhora
de Belém orando.
Numa segunda parte, em que Gama e os seus marinheiros passam por entre a multidão para chegar aos batéis, num caminho desde o “santo templo”, destacam-se as evocações de mães e esposas acerca da partida, criando um entristecimento na emotiva despedida do Restelo.
Finalmente, na terceira parte, é referido o embarque em que, por determinação de Vasco da Gama, não se fazem as despedidas habituais num sentido de menor sofrimento.
Também se pode considerar a importância desta viagem para Portugal, pois para além dos proveitos que poderia trazer ao reino, simbolizava, acima de tudo, um perigo

Sonho de D.Manuel I

D. Manuel I logo que assume o poder pretende dar continuidade aos desejos do seu antecessor, na conquista de novos mares e novas terras. Numa noite sonha com vários mundos, nações de muita gente, estranha e feras e vê dois homens que pareciam muito velhos. estes apresentam-se como "os rios do Ganges e Indo". O sonho prenuncia os êxitos, a fama, o poder e a glória que se cobrirá o Rei por ter conseguido descobrir o Oriente.

Os navegantes e, em especial, o comandante Vasco da Gama, ultrapassam a sua individualidade ou a participação do herói colectivo(povo português).

São símbolo do heroísmo lusíada, do espírito de aventura e da capacidade de vivência cosmopolita.

Durante o sono, o Deus do sonho aparece-lhe (Morfeu)

Engrandecimento do herói:

-> Morfeu inicia a apresentação da profecia com o prenuncio positivo de um alto e celeste destino para D. Manuel I, quando se leva no céu, tocando a lua.

->> Profecia:

1º - Vê vários mundos e muita gente estranha
2º - Vê duas fontes no Oriente.

As fontes simbolizam o nascimento de vida, logo o nascimento de um novo império.

Caracterização dos velhos:

Surgem com a cabeça coroada, simbolizando a importância que ambos assumem.
Na decoração da coroa denuncia-se a estranheza dos elementos: ramos e ervas desconhecidas.