Embora nunca
apareça em cena, Gomes Freire de Andrade - amado pelo povo e odiado pelos
governadores - é a personagem central e constitui o elemento estruturador da
acção:
- origina a
sequência de episódios da peça
- é o símbolo da
luta pela Liberdade e pela Justiça;
- atrai a
admiração e a esperança do povo miserável e oprimido;
- atrai, por
oposição, a desconfiança e o ódio dos governadores
- a sua prisão,
condenação e execução constituem o centro das conversas e condicionam o
comportamento das restantes personagens.
Apesar de estar
fisicamente ausente (de facto, nunca surge em cena / palco), domina os
pensamentos e as preocupações das restantes personagens, daí que o seu retrato
seja traçado a partir do que elas nos dão a conhecer sobre ele.
O general Gomes Freire de Andrade é apresentado como:
- um homem culto,
educado e letrado (um estrangeirado");
- o símbolo da luta
pela liberdade e pela defesa dos ideais contrários à prática dos "reis do
Rossio";
- o símbolo da
modernidade e do progresso, adepto das novas ideias liberais, por isso
considerado pelos governantes subversivo e perigoso, daí que preencha todos os
requisitos para ser o bode expiatório do ambiente de revolta;
- símbolo da
integridade e da recusa da subserviência, da capacidade de liderança e de
coragem na defesa dos ideais em que crê
- culpado (pelos
detentores do poder) porque "... é lúcido, é inteligente, é idolatrado
pelo povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é, senhores, um
estrangeirado..." (p. 71);
- um homem cuja
morte remete para a manutenção de uma ideologia fossilizada, num país estagnado
e assolado pelo medo, pela denúncia e pela suspeição (p. 63);
Um homem cuja morte é duplamente aviltante enquanto militar,
pois é enforcado e depois queimado, quando a sentença adequada para ele na
qualidade de elemento do exército seria o fuzilamento; por outro lado, a morte
pretende ser uma lição para todos aqueles que ousarem afrontar o poder
político.