“O
guardador de rebanhos”
O que nós vemos das cousas são as cousas.
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seriam iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seriam iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
Análise do Poema:
“o que nós vemos das cousas são as cousas” assim se inicia o
poema, desta forma Caeiro explica que as coisas são como as vemos e nada mais
para além disso, pois segundo a filosofia do “Mestre” querer ver para além das
coisas, raciocinando, é iludir-se.
Este poema procura ensinar o leitor a “pensar em a pensar” o
real.
Nos versos 5 e 6 “O essencial é saber ver, Saber ver sem
estar a pensar” , o poeta diz-nos que o essencial é ter consciência de
sentir (saber) sem raciocinar (pensar).
No 10º verso o poeta anti-metafórico contempla-nos com a
metáfora “…Alma vestida” em que o eu poético lamenta o peso dos nossos ensinamentos
e convicções que, tal como uma roupa vestida, protegem a nossa alma e
impossibilitam a visão das coisas tal como elas o são. Caeiro dá ênfase à
naturalidade e espontaneidade excluindo o excesso de reflexão e pensamento. A
roupa e tudo o que nos cobre os olhos e os sentidos, são imposições
culturais, filosóficas e religiosas que nos impossibilitam de ver a realidade
como ela é.
Nos três últimos versos, as estrelas e as flores são como
que uma expressão de fuga para a simplicidade da Natureza, aqui mais uma vez
está implícito a simplicidade das coisas elas são o que os olhos vêem, são
apenas elas mesmas.
O paradoxo : “uma aprendizagem de desaprender” diz respeito
à libertação do peso da metafísica em que foi tradicionalmente formado.
Trata-se de um novo processo de aprendizagem que pressupõe a libertação de
todas as convicçoes e pensamentos adquiridos. Paradoxalmente, para aprender é preciso
abandonar as formas e conteúdos pré-impostos e pré-concebidos, pensando
menos para libertar-se de tudo o que possa alterar a captação da
realidade.
Eu estou procurando sacar um trechinho desse verso, a "sequestração na liberdade daquele convento". Aparece sequestração na, e não da. Estranho. Achei que sequestração pode significar isolamento. Pode ser um "isolar-me", mesmo dentro da liberdade daquele convento, de modo a não "poetizar" nem metaforicamente, de modo a ver estrelas e flores simplesmente. Achei, de modo amador, que é isso. Vc acha que pode ser? Abç
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