Tempo
Este romance não apresenta um seguimento
temporal linear, mas, pelo contrário, uma estrutura complexa na qual se integram
vários "tipos" de tempos: tempo histórico, tempo do discurso e tempo
psicológico.
Tempo Histórico
Entende-se por tempo histórico aquele
que se desdobra em dias, meses e anos vividos pelas personagens, reflectindo
até acontecimentos cronológicos históricos do país.
N' Os Maias, o tempo histórico é
dominado pelo encadeamento de três gerações de uma família, cujo último membro
- Carlos, se destaca relativamente aos outros. A fronteira cronológica situa-se
entre 1820 e 1887, aproximadamente. Assim, o tempo concreto da intriga
compreende cerca de 70 anos.
Tempo do Discurso
Por tempo do discurso entende-se aquele
que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, ordenado ou alterado
logicamente, alargado ou resumido.
Na obra, o discurso inicia-se no Outono
de 1875, data em que Carlos, concluída a sua viagem de um ano pela Europa, após
a formatura, veio com o avô instalar-se definitivamente em Lisboa. Pelo
processo de analepse, o narrador vai, até parte do capítulo IV, referir-se aos
antepassados do protagonista (juventude e exílio de Afonso da Maia, educação,
casamento e suicídio de Pedro da Maia, e à educação de Carlos da Maia e sua
formatura em Coimbra) para recuperar o presente da história que havia referido
nas primeiras linhas do livro. Esta primeira parte pode considerar-se uma
novela introdutória que dura quase 60 anos. Esta analepse ocupa apenas 90
páginas, apresentadas por meio de resumos e elipses. Assim, como vemos, o tempo
histórico é muito mais longo do que o tempo do discurso. Do Outono de 1875 a
Janeiro de 1877 - data em que Carlos abandona o Ramalhete - existe uma
tentativa para que o tempo histórico (pouco mais de um ano da vida de Carlos)
seja idêntico ao tempo do discurso - cerca de 600 páginas - para tal Eça
serve-se muitas vezes da cena dialogada. O último capítulo é uma elipse (salto
no tempo) onde, passados 10 anos, Ega se encontra com Carlos em Lisboa.
Tempo Psicológico
O tempo psicológico é o tempo que a
personagem assume interiormente; é o tempo filtrado pelas suas vivências subjectivas,
muitas vezes carregado de densidade dramática. É o tempo que se alarga ou se
encurta conforme o estado de espírito em que se encontra.
No romance, embora não muito frequente,
é possível evidenciar alguns momentos de tempo psicológico nalgumas
personagens: Pedro da Maia, na noite em que se deu o desaparecimento de Maria Monforte
e o comunica a seu pai; Carlos, quando recorda o primeiro beijo que lhe deu a
Condessa de Gouvarinho, ou, na companhia de João da Ega, contempla, já no final
de livro, após a sua chegada de Paris, o velho Ramalhete abandonado e ambos
recordam o passado com nostalgia. Uma visão pessimista do Mundo e das coisas. É
o caso de "agora o seu dia estava findo: mas, passadas as longas horas,
terminada a longa noite, ele penetrava outra vez naquela sala de repes
vermelhos...".
O tempo psicológico introduz a subjectividade,
o que põe em causa as leis do naturalismo.
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