A prosa de Eça de Queirós reflecte a sua forma de pensar e
exprime facilmente o seu modo de ver o mundo e a vida. Este soube explorar, a
partir de um vocabulário simples, a força evocativa das palavras com o uso de
sentidos conotativos e relações combinatórias. Através de processos como: o
ritmo da narração, a descrição, o diálogo, monólogos interiores e comentários,
Eça de Queirós conseguiu imprimir nas suas palavras um verdadeiro encanto.
O Impressionismo Literário
Eça de Queirós revela um estilo literário dualista, por um
lado descreve de forma fiel a realidade observável e por outro, a fantasia e a
imaginação do escritor realçam essa mesma descrição. Deste modo, deixa transparecer
as impressões que lhe ficam da realidade que descreve já que considera que não
bastava descrever pormenorizadamente aquilo que se observava, mas que também
era necessário manifestar o sentimento que resulta dessa mesma observação.
Assim, Eça de Queirós além de descrever pormenorizadamente, soube revelar a sua
visão crítica sobre a sociedade dos finais do século XIX.
As Personagens
Nas suas obras, Eça de Queirós pretende criticar a sociedade
portuguesa da época. Para o fazer, utilizou personagens tipo – personagens que
não são individuais mas que dizem respeito uma personagem geral que retrata,
por exemplo, uma classe social ou uma certa instituição. Com este tipo de
personagens, o escritor conseguiu retratar nas suas obras a sociedade em que
vivia.Eça de Queirós julgava a sociedade portuguesa uma sociedade em
decadência, por isso era posta no banco dos réus por parte do autor.
As críticas que Eça de Queiroz faz da sociedade são bastante
subjectivas, pois é sempre a visão pessoal do escritor presente nas obras.
O Adjectivo e o Advérbio
De modo a tornar a sua escrita mais expressiva, Eça de
Queirós apoia-se nos adjectivos e advérbios de modo que transmitem ao leitor
uma sensação de visualização. O adjectivo é usado com uma sabedoria e
criatividade que faz dele a categoria gramatical por excelência na obra
queirosiana. Assim, consegue demonstrar a sua visão crítica sobre a sociedade
do século XIX de uma forma subtil mas que terá um grande ênfase, fazendo com
que a sua sátira nos pareça objectiva.
No estilo Queirosiano, o adjectivo é usado de forma
extremamente subjectiva e não pretende estabelecer qualquer relação directa com
o substantivo que qualifica, mas sim dar a entender a relação entre esse nome e
os outros, despertando a imaginação. Deste modo, o adjectivo surge com um
carácter impressionista da prosa de Eça de Queiroz, já que é utilizado para
mostrar ao leitor os sentimentos produzidos no escritor.
Outra característica literária presente nas obras de Eça de
Queirós é o uso de adjectivação dupla e tripla, com vista a mostrar não só a
descrição mas, novamente, complementando-a com as impressões que surgem da
mesma.
Quanto aos advérbios de modo, devido à sua sonoridade, foram
trabalhados cuidadosamente pelo escritor, de forma a incidirem sobre o sujeito,
mantendo as funções do adjectivo, mais uma vez, para que a criatividade e
imaginação do leitor surja de forma espontânea.
Os Verbos
Tal como acontece com o uso dos adjectivos e dos advérbios,
também os verbos são utilizados com um carácter impressionista por parte do
autor. Do mesmo modo, suscitam a imaginação do leitor. Para escapar à monotonia
imposta pelo uso de verbos semelhantes, Eça
de Queirós optou por substituir os verbos comuns por outros menos
vulgares, mas que expressam mais amplamente a acção descritiva pretendida pelo
autor.
Os verbos declarativos (disse, afirmou, observou, explicou,
respondeu, prosseguiu, …) são comuns para introduzir falas de personagens e por
isso tornam o discurso monótono, pelo que, o escritor opta por suprimi-los. Assim,
a não utilização deste tipo de verbos, confere ao texto uma quebra na monotonia
e dá-lhe ritmo e vivacidade.
É usual o uso do pretérito imperfeito em obras realistas,
pois este tempo torna as acções presentes as acções realizadas no passado.
Quando é utilizado o pretérito perfeito é narrada uma acção passada que está
concluída e encerrada no passado. No uso do imperfeito, pela transposição dos
eventos narrados até ao tempo presente, faz com que o leitor testemunhe o
acontecimento narrado.
A Frase e a Linguagem
Uma das preocupações de Eça de Queirós foi evitar as frases
demasiado expositivas, fastidiosas e pouco esclarecedoras dos românticos. Para
tal, faz uso da ordem directa da frase, para que a realidade possa ser
apresentada sem alterações, e empregou frases curtas para que os factos e as
emoções apresentadas fossem transmitidas objectivamente.
A pontuação, na prosa queirosiana, não pretende servir a
lógica gramatical. Eça de Queirós põe a pontuação ao serviço do ritmo da frase
para, por exemplo, marcar pausas respiratórias, para revelar hesitações ou
destacar elevações de vozes.
Para evitar a utilização constante dos verbos declarativos,
Eça de Queirós criou o estilo indirecto livre.
O processo consiste
em utilizar no discurso indirecto a linguagem que a personagem usaria no
discurso directo, ou seja no diálogo. Deste modo, o texto ganha vivacidade e
evita a repetitiva utilização de disse que, perguntou se, afirmou que, ...,
criando a impressão de se ouvir falar a personagem.
Eça de Queirós utiliza uma linguagem representativa não só
da personalidade da personagem mas também de acordo com a sua condição social.
Como observador da sua sociedade, Eça de Queirós teve de
recriar nas suas obras as diferentes linguagens das diferentes classes sociais
da sua época. Por isso, as suas obras tornam-se riquíssimos espólios e
testemunhos da vida dos finais do século XIX.
Recursos Estilísticos
A prosa Queirosiana é enriquecida com vários recursos
estilísticos. Aquelas que se podem destacar por melhor representam o estilo de
Eça de Queirós são:
- a hipálage – figura de estilo que consiste em atribuir uma
qualidade de um nome a outro que lhe está relacionado, revelando assim a
impressão do escritor face ao que descreve.
- a sinestesia – figura de estilo relacionada com o apelo
aos sentidos que nos transporta para um conjunto de sensações por nos descrever
determinado ambiente (cenário envolvente) com realismo, tornando-nos de certa
forma testemunhas desse cenário.
- a adjectivação – uso de adjectivos, muitas vezes utilizada
a dupla e tripla adjectivação.
- a ironia – recurso estilístico que, por expressar o
contrário da realidade, serve para satirizar e expor contrastes e paradoxos.
- a aliteração – figura de estilo que utiliza a repetição de
sons para exprimir sensações ou sons da realidade envolvente.
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