quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Paralelo entre Tempo da História e o Tempo da Escrita de "Felizmente há Luar!"

   Revolução Francesa de 1789 e invasões napoleónicas levam Portugal à indecisão entre os aliados e os franceses. Para evitar a rendição, D. João V foge para o Brasil. Depois da 1ª invasão, a corte pede a Inglaterra, um oficial para reorganizar o exército: General Beresford
   Luís de Sttau Monteiro denuncia a opressão vivida na época em que escreve esta obra, isto é, em 1965, durante a ditadura de Salazar. Assim, o recurso à distanciação histórica e à descrição das injustiças praticadas no início do século XIX, permitiu-lhe, também, colocar em destaque as injustiças do seu tempo.
   A peça "Felizmente há luar" é uma peça épica, inspirada na teoria marxista, que apela à reflexão, não só no quadro da representação, como também na sociedade em que se insere. O teatro de Brecht pretende representar o mundo e o homem em constante evolução de acordo com as relações sociais. Estas características afastam-se da concepção do teatro aristotélico que pretendia despertar emoções, levando o espectador a identificar-se com o herói. 
   O teatro moderno tem como preocupação fundamental levar os espectadores a pensar, a reflectir sobre os acontecimentos passados e a tomar posição na sociedade em que se insere. Surge assim a técnica do distanciamento que propõe um afastamento entre o actor e a personagem e entre o espectador e a história narrada, para que, de uma forma mais real e autêntica possam fazer juízos de valor sobre o que está a ser representado. Luís Sttau Monteiro pretende, através da distanciação, envolver o espectador no julgamento da sociedade, tomando contacto com o sofrimento dos outros. 
   Deste modo o espectador deve possuir um olhar crítico para melhor se aperceber de todas as formas de injustiça e opressões.

Elementos Simbólicos em "Felizmente há Luar!"

Saia verde: A saia encontra-se associada à felicidade e foi comprada numa terra de liberdade: Paris. , no Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas. "alegria no reencontro"; a saia é uma peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à esperança de que um dia se reponha a justiça.  Sinal do amor verdadeiro e transformador, pois Matilde, vencendo aparentemente a dor e revolta iniciais, comunica aos outros esperança através desta simples peça de vestuário. O verde é a cor predominante na natureza e dos campos na Primavera, associando-se à força, à fertilidade e à esperança.

Título: duas vezes mencionado, inserido nas falas das personagens (por D.Miguel, que salienta o efeito dissuador das execuções e por Matilde, cujas palavras remetem para um estímulo para que o povo se revolte).

A luz: como metáfora do conhecimento dos valores do futuro (igualdade, fraternidade e liberdade), que possibilita o progresso do mundo, vencendo a escuridão da noite (opressão, falta de liberdade e de esclarecimento), advém quer da fogueira quer do luar. Ambas são a certeza de que o bem e a justiça triunfarão, não obstante todo o sofrimento inerente a eles. Se a luz se encontra associada à vida, à saúde e à felicidade, a noite e as trevas relacionam-se com o mal, a infelicidade, o castigo, a perdição e a morte. A luz representa a esperança num momento trágico.

Noite: mal, castigo, morte, símbolo do obscurantismo

Lua: simbolicamente, por estar privada de luz própria, na dependência do Sol e por atravessar fases, mudando de forma, representa: dependência, periodicidade. A luz da lua, devido aos ciclos lunares, também se associa à renovação. A luz do luar é a força extraordinária que permite o conhecimento e a lua poderá simbolizar a passagem da vida para a morte e vice-versa, o que aliás, se relaciona com a crença na vida para além da morte. 

Luar: duas conotações: para os opressores, mais pessoas ficarão avisadas e para os oprimidos, mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade.

Fogueira: D. Miguel Forjaz – ensinamento ao povo; Matilde – a chama mantém-se viva e a liberdade há-de chegar.
O fogo é um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e regenerador, sendo a purificação pela água complementada pela do fogo. Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade.

Moeda de cinco reis: símbolo do desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o próximo, contrariando os mandamentos de Deus.

Tambores: símbolo da repressão sempre presente.

Título de "Felizmente há Luar!"

   O título da peça aparece duas vezes ao longo da peça, ora inserido nas falas de um dos elementos do poder – D. Miguel – ora inserido na fala final de Matilde. Em primeiro lugar é curioso e simbólico o facto de o título coincidir com as palavras finais da obra, o que desde logo lhe confere circularidade. 

1) página 131 – D. Miguel: salientando o efeito dissuasor das execuções, querendo que o castigo de Gomes Freire se torne num exemplo;

2) página 140 – Matilde: na altura da execução são proferidas palavras de coragem e estímulo, para que o povo se revolte contra a tirania;

   Num primeiro momento, o título representa as trevas e o obscurantismo; num segundo momento, representa a caminhada da sociedade em busca da liberdade.

   Como facilmente se constata a mesma frase é proferida por personagens pertencentes a mundos completamente opostos: D. Miguel, símbolo do poder, e Matilde, símbolo da resistência e do antipoder. Porém o sentido veiculado pelas mesmas palavras altera-se em virtude de uma afirmação dar lugar a uma eufórica exclamação
   1) Para D. Miguel, o luar permitiria que as pessoas vissem mais facilmente o clarão da fogueira, isso faria com que elas ficassem atemorizadas e percebessem que aquele é o fim ultimo de quem afronta o regime. A fogueira teria um efeito dissuasor.
   2) Para Matilde, estas palavras são fruto de um sofrimento interiorizado reflectido, são a esperança e o não conformismo nascidos após a revolta, a luz que vence as trevas, a vida que triunfa da morte. A luz do luar (liberdade) vencerá a escuridão da noite (opressão) e todos poderão contemplar, enfim, a injustiça que está a ser praticada e tirar dela ilações.

Há que imperiosamente lutar no presente pelo futuro e dizer não à opressão e falta de liberdade, há que seguir a luz redentora e trilhar um caminho novo.

"Felizmente há Luar!" Espaço e Tempo

Espaço:
 - espaço físico: a acção desenrola-se em diversos locais, exteriores e interiores, mas não há nas indicações cénicas referência a cenários diferentes;
 - espaço social: meio social em que estão inseridas as personagens, havendo vários espaços sociais, distinguindo-se uns dos outros pelo vestuário e pela linguagem das várias personagens;

Tempo:
 - tempo histórico: século XIX;
 - tempo da escrita: 1961, época dos conflitos entre a oposição e o regime salazarista;
 - tempo da representação: 1h30m/2h;
 - tempo da acção dramática: a acção está concentrada em 2 dias;
- tempo da narração: informações respeitantes a eventos não dramatizados, ocorridos no passado, mas importantes para o desenrolar da acção.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Características das Personagens de "Felizmente há Luar"

GOMES FREIRE: protagonista, embora nunca apareça é evocado através da esperança do povo, das perseguições dos governadores e da revolta da sua mulher e amigos. É acusado de ser o grão-mestre da maçonaria, estrangeirado, soldado brilhante, idolatrado pelo povo. Acredita na justiça e luta pela liberdade. É apresentado como o defensor do povo oprimido; o herói (no entanto, ele acaba como o anti-herói, o herói falhado); símbolo de esperança de liberdade
D. MIGUEL FORJAZ: primo de Gomes Freire, assustado com as transformações que não deseja, corrompido pelo poder, vingativo, frio e calculista. prepotente; autoritário; servil (porque se rebaixa aos outros); 
PRINCIPAL SOUSA: defende o obscurantismo, é deformado pelo fanatismo religioso; desonesto, corrompido pelo poder eclesiástico, odeia os franceses
BERESFORD: cinismo em relação aos portugueses, a Portugal e à sua situação; oportunista; autoritário; mas é bom militar; preocupa-se somente com a sua carreira e com dinheiro; ainda consegue ser minimamente franco e honesto, pois tem a coragem de dizer o que realmente quer, ao contrário dos dois governadores portugueses. É poderoso, interesseiro, calculista, trocista, sarcástico
VICENTE: sarcástico, demagogo, falso humanista, movido pelo interesse da recompensa material, hipócrita, despreza a sua origem e o seu passado; traidor; desleal; acaba por ser um delator que age dessa maneira porque está revoltado com a sua condição social (só desse modo pode ascender socialmente).
MANUEL: denuncia a opressão a que o povo está sujeito. É o mais consciente dos populares; é corajoso. 
MATILDE DE MELO: corajosa, exprime romanticamente o seu amor, reage violentamente perante o ódio e as injustiças, sincera, ora desanima, ora se enfurece, ora se revolta, mas luta sempre. Representa uma denúncia da hipocrisia do mundo e dos interesses que se instalam em volta do poder (faceta/discurso social); por outro lado, apresenta-se como mulher dedicada de Gomes Freire, que, numa situação crítica como esta, tem discursos tanto marcados pelo amor, como pelo ódio.
SOUSA FALCÃO: inseparável amigo, sofre junto de Matilde, assume as mesmas ideias que Gomes Freire, mas não teve a coragem do general. Representa a amizade e a fidelidade; é o único amigo de Gomes Freire de Andrade que aparece na peça; ele representa os poucos amigos que são capazes de lutar por uma causa e por um amigo nos momentos difíceis.

Frei Diogo: homem sério; representante do clero; honesto – é o contraposto do Principal Sousa. 

Delatores: mesquinhos; oportunistas; hipócritas.


MIGUEL FORJAZ, BERESFORD e PRINCIPAL SOUSA  perseguem, prendem e mandam executar o General e restantes conspiradores na fogueira. Para eles, a execução à noite, constituía uma forma de avisar e dissuadir os outros revoltosos, mas para MATILDE era uma luz a seguir na luta pela liberdade.

Humberto da Silva Delgado

Humberto da Silva Delgado nasceu em 1906 em Torres Novas. A sua educação passou pela frequência do Colégio Militar, tendo terminado os seus estudos em 1922.
Participou activamente no movimento militar de 28 de Maio de 1926, que conduziu mais tarde ao Estado Novo. Anos depois rompeu relações com o regime de Salazar, apresentando-se em 1958 como candidato à Presidência da República, tendo como opositor Américo Thomaz. Após uma campanha eleitoral activa, onde conquistou o apoio popular, acabou por ser derrotado, apesar de tanto ele como a oposição em geral nunca terem aceite os resultados.
O "General Sem Medo", como ficou celebrizado, teve de se exilar (primeiro no Brasil, depois na Argélia), nunca tendo no entanto deixado de dirigir acções contra o regime.

Foi assassinado a tiro em 1965, perto de Badajoz, por um membro da PIDE, apesar de o regime nunca ter assumido oficialmente as responsabilidades. Contudo, a sua luta não foi em vão: a opinião pública que o apoiava tornou-se num grave problema para a política de Salazar.

António de Oliveira Salazar


António de Oliveira Salazar nasceu em 1889, em Santa Comba Dão, descendente de uma família de pequenos proprietários agrícolas.
A sua educação foi fortemente marcada pelo Catolicismo, chegando mesmo a frequentar um seminário. Mais tarde estudou na Universidade de Coimbra, onde veio a ser docente de Economia Política.
Ainda durante a 1ª República, Salazar iniciou a sua carreira política como deputado católico para o Parlamento Republicano em 1921.
Já em plena Ditadura Militar, Salazar foi nomeado para Ministro das Finanças, cargo que exerceu apenas por quatro dias, devido a não lhe terem sido delegados todos os poderes que exigia. Quando Óscar Carmona chegou a Presidente da República, Salazar regressou à pasta das Finanças, com todas as condições exigidas (supervisionar as despesas de todos os Ministérios do governo).
Apesar da severidade do regime que impôs, publicou em 14 de Maio de 1928 a Reforma Orçamental, contribuindo para que o ano económico de 1928-1929 registasse um saldo positivo, o que lhe granjeou prestígio.
O sucesso obtido na pasta das Finanças tornou-o, em 1932, chefe de governo. Em 1933, com a aprovação da nova Constituição, formou-se o Estado Novo, um regime autoritário semelhante ao fascismo de Benito Mussolini.
As graves perturbações verificadas nos anos 20 e 30 nos países da Europa Ocidental levaram Salazar a adoptar severas medidas repressivas contra os que ousavam discordar da orientação do Estado Novo.
Ao nível das relações internacionais, conseguiu assegurar a neutralidade de Portugal na Guerra Civil de Espanha e na II Guerra Mundial.

O declínio do império salazarista acelerou-se a partir de 1961, a par do surto de emigração e de um crescimento capitalista de difícil controlo. É afastado do governo em 1968 por motivo de doença, sendo substituído por Marcello Caetano. Acabaria por falecer em Lisboa, a 27 de Julho de 1970.

Fonte: http://www.citi.pt/cultura/politica/25_de_abril/salazar.html

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Estado Novo

O período da história contemporânea de Portugal conhecido como “Estado Novo” está indissoluvelmente ligado à figura de António de Oliveira Salazar, que manteve o poder político e governou o país por mais de quatro décadas, sob fundamentos ideológicos associados ao fascismo italiano, como o nacionalismo, o autoritarismo, o corporativismo e o pensamento conservador.
A aprovação de uma nova Constituição para Portugal no ano de 1933 marcou o começo do período, alicerçado na Ditadura Nacional, regime militar estabelecido em 1926, que dispôs uma fase de transição caracterizada principalmente pela suspensão da Constituição Portuguesa de 1911.
A imposição das novas condições visava acabar com as facções de oposição ao pensamento do governo, como o liberalismo e o comunismo, que no entanto, deu direito de voto às mulheres e assegurou ingressos justos para as chamadas classes operárias.

Outras características marcantes do regime foram: uma ideologia com forte componente católica, apoio na propaganda política, criação de organizações juvenis (Mocidade Portuguesa) para transmitir aos jovens a ideologia do regime, a organização de uma polícia política repressiva (conhecida por PIDE), uma atitude aberta e ativamente anticomunista, que lhe permitiu aliar-se aos E.U.A, durante a Guerra Fria.


O Estado Novo e a Revolução dos Cravos

Após o retiro de António de Oliveira Salazar, foi substituído por Marcelo Caetano desde 1968, quem, longe de ser o agente de câmbio que o país esperava, continuou as políticas de seu predecessor, que deixaram a Portugal em uma situação cada vez mais crítica.
O Estado Novo, após 41 anos de vida, foi derrubado no dia 25 de Abril de 1974, com um golpe efetuado por militares do Movimento das Forças Armadas – MFA.
Cansada da repressão, da censura e da guerra, a população apoiou ativamente as ações golpistas.


A Revolução dos Cravos, como foi conhecida esta insurreição, não causou vítimas nem feridos. O caráter pacífico deste evento explica a impotência do governo do Estado Novo para enfrentar-se aos setores de oposição.

Fonte: http://www.historiadeportugal.info/estado-novo/

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

D. Miguel Pereira Forjaz

   D. Miguel Pereira Forjaz (1 de Novembro de 1769 — 6 de Novembro de 1827), 9.º Conde da Feira, foi um militar e político português que se distinguiu durante a ocupação francesa de Portugal e as guerras napoleónicas.
   Foi um dos nomeados governador do Conselho de Regência de 1807 e do de 1807 para tomarem conta do Reino de Portugal quando a corte se deslocou para o Brasil.
   Militar português, 9.º Conde da Feira, nascido a 1 de novembro de 1769 e falecido a 6 de novembro de 1827, entrou para o exército em 1785, como cadete no Regimento de Peniche. Promovido a alferes em 1787, a capitão em 1791 e a major em 1793, tornou-se ajudante de ordens do general Forbes, combatendo no Rossilhão e na Catalunha. Em 1800, foi nomeado governador e capitão-general do Pará, Brasil, (para onde não chegou a partir). Em 1808 foi promovido a marechal de campo e em 1812 a tenente general.
   Apoiou Beresford na reorganização do exército português, embora assumindo posições cada vez mais críticas sobre a influência do general britânico.
   Com a revolução de 1820, abandonou o seu lugar na Regência, mas recebeu o título de conde da Feira.
   Luís de Sttau Monteiro fez de D. Miguel Forjaz personagem na sua peça de teatro Felizmente Há Luar!. Primo de Gomes Freire, é um governante prepotente, assustado com transformações que não deseja, corrompido pelo poder, vingativo, frio, desumano, calculista. Inteiramente dedicado aos seus ideais, D. Miguel assume como missão o combate por um modelo de sociedade à luz dos valores do patriotismo e da noção de Estado, assente nos pilares tradicionais da monarquia absolutista; da defesa de uma sociedade estratificada, com papéis sociais distintos; da recusa de uma sociedade regida por princípios como liberdade e igualdade; da conceção de um poder político autocrático.


   Representante da Nobreza na Regência, assume o papel principal na acusação do General Gomes Freire pois receia que o prestígio, inteligência e capacidade deste lhe retirem a projeção a que está habituado e coloquem em causa o seu lugar na Regência.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Pereira_Forjaz

William Carr Beresford

 William Carr Beresford (Irlandax, 1768 — 8 de Janeiro de 1854) foi um militar britânico, marechal (1809) e depois marechal-general (1816) do exército português.
   Foi comandante em chefe durante toda a Guerra Peninsular, de março de 1809 à revolução liberal de 1820, gozando de poderes de governação dada a ausência da Corte portuguesa, refugiada no Brasil (1808-1821).
   Na peça Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro, Beresford demonstra ser poderoso, mercenário, interesseiro, calculista, trocista, sarcástico; a sua opinião sobre Portugal fica claramente expressa na afirmação «Neste país de intrigas e de traições, só se entendem uns com os outros para destruir um inimigo comum e eu posso transformar-me nesse inimigo comum, se não tiver cuidado.». 
O marechal Beresford teme ser substituído pelo General Gomes Freire de Andrade e perder privilégios, quer ao nível dos poderes que exerce, quer do elevado salário que aufere pelos seus serviços de comandante do exército português. Por isso, realça a gravidade do momento, impelindo os outros à ação: «Não percam tempo, Senhores. O momento é grave e a causa é justa. Vão.».
   Beresford revela-se ainda um homem de ação, de carácter autoritário, intolerante e pragmático («Quero saber, «Comprem [...], vendam [...], mas tragam-nos os nomes dos chefes»); não só assume, sem qualquer remorso ou inquietação moral, a conveniência de «crucificar alguém» (com ou sem provas concretas) como o faz com uma frieza sarcástica e calculista («Já que temos ocasião de crucificar alguém, que escolhamos a quem valha a pena crucificar…»), chamando a atenção para a importância do perfil da personalidade a escolher («Pensou em alguém, Excelência?» ).
   Na peça Felizmente Há Luar!, faz-se um retrato implacável do poder autocrático, o qual, no contexto sociopolítico em que a peça é escrita, de imediato evoca a ditadura salazarista, de igual modo alicerçada na mediocridade e perseguindo arbitrariamente as personalidades que se evidenciavam pela inteligência, competência e coerência moral.
   A personagem Beresford representa, de forma exemplar, esse poder autocrático, chamando a si a arbitrariedade e o cinismo com que os ditadores exercem o poder, orientando a procura do nome do chefe da conjura, não com base em factos incriminatórios, mas segundo o que lhes convenha a eles, aos governantes, para se manterem no poder. Juntamente com o marechal, D. Miguel completa este retrato do poder ditatorial, evidenciando o medo que a personagem tem do confronto democrático («estaria politicamente liquidado se tivesse de discutir as minhas ordens») e do possível aparecimento de líderes populares, pela ameaça que constituiriam ao seu poder. É assim que o general Gomes Freire de Andrade é escolhido para ser acusado de chefe da conjura, apesar de não haver, como explicita Corvo, qualquer prova contra ele. 
  Ao considerar Gomes Freire como «inimigo natural» da Regência do país, Beresford deixa entender que esta só pode subsistir rodeada de mediocridade, isto é, as pessoas com qualidades morais, intelectuais e sociais constituem uma ameaça para o governo.



Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Carr_Beresford