quarta-feira, 11 de março de 2015

Visita Virtual ao Convento de Mafra

http://www.visitasvirtuais.com/local.aspx?id=PalacioNacionalDeMafra#.VQAohHysUdU

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Acção

Na acção, o Rei D. JoãoV , Baltasar, Blimunda e Bartolomeu Lourenço protagonizam as diversas acções que se entretecem em Memorial do Convento.
A acção principal é a construção do convento de Mafra. Esta resulta da reinvenção da História pela ficção. Situa-se no inicio do séc. XVIII, encontrado-se enlaçados dados Históricos, como o da promesssa de D. João V de construir um convento em Mafra, e o do sofrimento que nele trabalhou. Percebe-se a situação económica e social do país, os autos de fé praticados pela Inquisição, o sonho e a construção da passarola pelo padre Bartolomeu, as críticas ao comportamento do clero, os casamento da infanta Maria Bárbara e do príncipe D. José.
Em paralelo com a acção principal decorre uma acção que envolve Bartolomeu - Sete Sóis - e Blimunda - Sete Luas -. São estas personagens que estabelecem o fio condutor da intriga e que lhe conferem fragmentos de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia.
A centralidade conferida ás obras do Convento e aos espaços sociais de Lisboa ou de Mafra dão frequentemente lugar a uma intriga de profunda humanidade trágica. As duas acções voluntariamente surgem em fragmentos que se reconstituem por encaixes vários e recriam situaçõs, costumes, tradições, hambientes e problemas. 

Espaço 

Memorial do Convento apresenta três tipos de espaço: o espaço físico, o espaço social, o espaço psicológico. Espaço Físico: São dois os espaços físicos nos quais se desenrola a acção: Lisboa e Mafra. 
Lisboa- Enquanto macroespaço, integra outros espaços Terreiro do Paço Local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa Rossio Este espaço aparece no início da obra como local onde decorre o auto-de-fé S. Sebastião da Pedreira Espaço relacionado com a passarola do Padre Bartolomeu de Gusmão e com o carácter mítico da máquina voadora 
 Rossio – Auto-de-fé Gravura do séc. XVIII

 O alto da Vela foi o local escolhido para a construção do convento. - Nas imediações da obra, surge a “Ilha da Madeira”, onde começaram por se alojar dez mil trabalhadores, chegando, mais tarde, a quarenta mil. Além de Mafra, são referidos os espaços de Pêro Pinheiro, serra do Barregudo, Monte Junto e Torres Vedras. Nota : as referências ao Alentejo apresentam um espaço povoado de mendigos e de salteadores. Mafra É o segundo macroespaço
Espaço Social – Lisboa e Mafra O espaço social é construído através do relato de determinados momentos e do percurso de personagens que tipificam um determinado grupo social. Destaque:
1- Procissão da Quaresma – caracterização da cidade de Lisboa; excessos praticados durante o Entrudo; penitência física; a descrição da procissão; as manifestações de fé que tocavam a histeria com os penitentes a autoflagelarem-se.
2- Autos-de-fé (Rossio) – entre os autos-de-fé e as touradas, o povo revela gosto sanguinário e emoções fortes; a assistência feminina preocupa-se com os pormenores fúteis e com os jogos de sedução; a morte dos condenados é motivo de festa.  
3- Tourada (Terreiro do Paço) – os touros são torturados, o público exulta com o espectáculo.
4- Procissão do Corpo de Deus – as procissões caracterizam Lisboa como um espaço caótico, cujo ritual tem um efeito exorcizante.
5- O trabalho no Convento – Mafra simboliza o espaço da servidão desumana a que D. João V sujeitou o seu povo (cerca de 40 mil trabalhadores).
6-A miséria do Alentejo – este espaço associa-se à fome e à miséria.
 Espaço Psicológico O espaço psicológico é constituído pelo conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens. Revela-se através dos sonhos e dos pensamentos. Ex.: Sonhos de D. Maria Ana (com infante D. Francisco); de Baltasar quando andava a lavrar o alto da Vela; pensamentos do padre Bartolomeu relativamente ao voo da passarola. 

Tempo 

O fluir do tempo , mais do que através da recorrência a marcos cronológicos específicos, é sugerido pelas transformações sofridas pelas personagens. - tempo da história (tempo diegético) - tempo do discurso.
Tempo Diegético - Trata-se do tempo histórico em que decorre a acção (1711 a 1730). A acção tem início no ano de 1711 : ”S. Francisco andava pelo mundo, precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze…” Datas: 1711 – promessa de construção do convento. 1716 – bênção da primeira pedra. 1717 – Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa. 1719 – casamentos de D. José e de Maria Bárbara. 1730 – sagração do convento. 1739 – fim da acção, quando Blimunda vê Baltasar a ser queimado.
Tempo do Discurso - Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, através da forma como relata os acontecimentos. Pode ser apresentado de forma linear, e ou com recurso a analepses e prolepses. 

Estrutura do Memorial do Convento



Estrutura

A estrutura de um romance assenta na coexistência de vários conflitos que se enredam e através do texto manifestam ou desoculam a realidade e os problemas do ser humano.
Em Memorial, observa-se uma reinvenção da História, de actos e de comportamentos para despertar os leitores para situações reais perturbantes que devem ser analisadas. Pela ficção e com a sua palavra reveladora e denunciadora Sramago propõe o repensar da História portuguesa à luz das mentalidades actuais e possibilita a consciencialização sobre a verdade do homem.
A estrutura do Memorial do convento apresenta duas linhas condutoras da acção -construção do convento de Mafra e a relação entre Baltasar e Blimunda- que se entrelaçam com acontecimentos diversos recolhidos na História ou fantasiados.
A obra é composta por 25 capítulos


Para além da sua divisão em capítulos, da obra destacam-se ainda 3 planos:

Plano da história
-Portugal no século XVIII
-Reinado de D. João V
-Construcção do Convento
-Inquisição, autos de fé, casamento dos infantes

Plano da ficção da História

-O narrador molda as personagens históricas, transformando-as
-D. João e D. Ana caricaturados 
Plano do fantástico
-Construcção da Passarola 
-Dom de Blimunda 
Romance histórico - oferece uma descrição minuciosa da sociedade portuguesa da época. Por outro lado, nesta obra, o ponto de vista do narrador altera o ponto de vista histórico e, como tal, a classificação de Memorial do convento com romance histórico não é consensual.
Romance social - preocupa-se coma realidade social fazendo sobressair o povo oprimido.
Romance de intervenção - visa denunciar a história repressiva portuguesa da 1ªmetade do século XX.
Romance de espaço - traduz não só o ambiente histórico, mas também vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do ser humano.

Personagens 







Rei D. João V

·   Rei vaidoso, egocêntrico, megalómano e libertino
·    Rico e poderoso - não sabe o que fazer com tanta riqueza
·    Arrogante - a vontade do rei é divina
·   Tem " medo de morrer"
·    É ridicularizado pelo narrador que recorre à caricatura e ao tom irónico na sua descrição

Baltazar

·  Homem do povo nascido em Mafra
·   Não tem a mão esquerda
·  Tem a alcunha de Sete Sóis
·   Apaixonado por Blimunda
·  Sonhador, constrói a Passarola
·   Morre queimado num auto-de fé (54 anos)

Blimunda

·  Mulher misteriosa, fiel, intuitiva e inabalável no amor
·  Possui o dom da vidência, vê o interior dos corpos
·  Tem a alcunha de Sete Luas
·  Tem uma sabedoria muito própria, é inteligente

Padre Bartolomeu de Gusmão

·  Sonhador, visionário e culto

·   
Capelão na corte e amigo de D. João V
·    Nascido no Brasil
·   Possui uma visão muito própria da religião pois:
- abençoa a relação de Baltazar e Blimunda
- aceita o dom de Blimunda
- é muito ligado à ciência

·  Possui um espírito cientifico que o vai afastando da igreja progressivamente;
· O seu conhecimento e estudos levam-no a interrogar-se acerca dos dogmas católicos;
· Tem medo da Inquisição pois está consciente de que fez coisas condenadas pelo Santo Oficio como, a construção da Passarola;
·   Morre louco em Toledo;

Domenico Scarlatti

·  Músico italiano, nascido em Nápoles

· 
Talentoso, culto e sonhador
·  Professor de D. Maria Barbara
·  Trava amizade com o Padre Bartolomeu na corte do rei
·  Tem conhecimento da existência da Passarola e interessa-se pelo engenho
·   A sua música possui um poder curativo e inebriante

O povo

·  Populares anónimos, analfabetos e oprimidos
· Trabalhadores humildes
·  Sacrificados e sujeitos à exploração dos poderosos
·  Elevados a herói pelo narrador



O Narrador 



Homodiegético

·  Fala na 1ªpessoa, dialoga com outras personagens
·  Ex : o fidalgo do cortejo do casamento dos príncipes (que explica a João Elvas o que se vai passando) e Manuel Milho

Heterodiegético

·  Está fora da história que narra
·  Fala na 3ª pessoa
·  Descreve, sentencia, profetiza

 Em Memorial do Convento, o narrador conta a história com apartes e comentários:

·  com uma voz distanciada e impessoal
·   com uma voz intemporal, comentando os acontecimentos do passado à luz do presente
·   apresentando marcas da oralidade
·   como se estivesse dentro e fora das personagens (omnisciente)


Simbologia 

·         Convento de Mafra

  D. João V, que surge na obra como um monarca libertino e vulgar (contrariando a História, que o consagra como «o Magnânimo») manda construir um monumento que é símbolo da ostentação régia, da opressão e da vaidade dos poderosos.
       Representa o sacrifício dos operários que construíram esse monumento, a exploração e miséria do povo que nele trabalhou.

·         Passarola
       
Traduz a harmonia entre o sonho e a sua realização. Graças ao sonho, foi possível juntar a ciência, o trabalho artesanal, a magia e a arte, para fazer a passarola voar.
       Representa a liberdade, a alternativa a um espaço de repressão, intolerância e violência (Inquisição / Despotismo Iluminado).

·         Blimunda

       Com o seu poder de visão, compreende as coisas sobre a vida, a morte, o pecado e o amor.
       O olhar de Blimunda é o olhar da «História» que o narrador exercita, denunciando a moral duvidosa, os excessos da corte, o materialismo e hipocrisia do clero, as injustiças da Inquisição, o terror, o obscurantismo de uma época, a miséria e as diferenças sociais.

·         Numero Sete

       Sete são as vezes que Blimunda passa em Lisboa, em demanda de Baltasar. Esse número regula os ciclos da vida e da morte na Terra e pode ligar-se à ideia de felicidade, de totalidade, deordem moral e espiritual.

·         Sol

       Associado a Baltasar e ao povo, sugere a ideia de vida, de renovação de energias (o povo trabalha até à exaustão no convento, Baltasar constrói uma máquina, mesmo depois de decepado).
       Como o Sol, que todos os dias tem de vencer os guardiães da noite (mitologia antiga), também Baltasar vence as forças obscuras da ignorância e da intolerância ao voar.

·         Lua

       Símbolo do ritmo biológico da Terra, traduz a força vital que é representada pelas vontades recolhidas por Blimunda para fazer voar a passarola.
       Associada a Blimunda, lembra o seu mágico poder de «ver às escuras», embora este esteja condicionado (só vê o interior das pessoas em jejum e quando não há quarto de lua).

·         Cobertor

       Trazido da Holanda pela rainha, torna-se símbolo da separaçãoque marca o casamento de conveniência do casal régio. Exprime a frieza do amor, a ausência do prazer, os desejos insatisfeitos.

·         Colher

       Quando partilhada, é um símbolo da aliança, do compromisso sagrado que vai unir para sempre as duas personagens populares. Exprime o amor autêntico, a atracção erótica e apaixonada, a vivência plena do prazer.

D. João V

D. João V, Filho de D. Pedro II e de Maria Sofia de Neubourg, foi aclamado rei em 1707. 
Quando iniciou o reinado, estava-se em plena Guerra da Sucessão de Espanha, que para Portugal significava o perigo da ligação daquele país à grande potência continental que era a França. No entanto, a subida ao trono austríaco do imperador Carlos III, pretendente ao trono espanhol, facilitou a paz que foi assinada em Utreque, em 1714. Portugal viu reconhecida a sua soberania sobre as terras amazónicas e, no ano seguinte, a paz com a Espanha garantia‑nos a restituição da colónia do Sacramento. 
Aprendeu D. João V com esta guerra a não dar um apreço muito grande às questões europeias e à sinceridade dos acordos; daí em diante permaneceu inalteravelmente fiel aos seus interesses atlânticos, comerciais e políticos, reafirmando nesse sentido a aliança com a Inglaterra. Em relação ao Brasil, que foi sem dúvida a sua principal preocupação, tratou D. João V de canalizar para lá um considerável número de emigrantes, ampliou os quadros administrativos, militares e técnicos, reformou os impostos e ampliou a cultura do açúcar. Apesar disso, Portugal entra numa fase de dificuldades económicas, devidas ao contrabando do ouro do Brasil e às dificuldades do império do Oriente. 
A este estado de coisas procura o rei responder com o fomento industrial, mas outros problemas surgem, agora de carácter social: insubordinação de nobres, quebras de disciplina conventual, conflitos de trabalho, intensificação do ódio ao judeu. Por outro lado, o facto da máquina administrativa e política do absolutismo não estar de maneira nenhuma preparada para a complexidade crescente da vida da nação, só veio agravar as dificuldades citadas. 
Culturalmente, o reinado de D. João V tem aspetos de muito interesse. O barroco manifesta-se na arquitetura, mobiliário, talha, azulejo e ourivesaria, com grande riqueza. No campo filosófico surge Luís António Verney com o Verdadeiro Método de Estudar e, no campo literário, António José da Silva. É fundada a Real Academia Portuguesa de História e a ópera italiana é introduzida em Portugal.
Morreu a 31 de Julho de 1750 (60 anos), em Lisboa.

Vida e Obra de José Saramago

José de Sousa Saramago nasceu a 16 de Novembro, numa família de camponeses da Aldeia de Azinhaga, ao sul de Portugal, em 1922. Os seus pais eram analfabetos. A sua origem influenciou o modo de escrever, caracterizado pela liberdade no uso da pontuação. Saramago defendia que, quando se fala, não se usa pontuação por isso, esta também não deveria ser usada na escrita.
Com o seu estilo próprio, Saramago conquistou em 1995 o Prêmio Camões, a mais importante distinção dada a um escritor em língua portuguesa e, em 1998, o Prêmio Nobel de Literatura.
Levantado do Chão é um dos livros mais conhecidos de Saramago. Ao mostrar a luta do povo contra a opressão dos latifundiários e das autoridades oficiais e clericais, o romance faz ecoar a opção política do escritor, que se dizia socialista até o fim da vida. Considerado hoje o seu primeiro grande romance, Levantado do Chão também merece destaque por ter dado notoriedade a Saramago, que por ele recebeu o Prêmio Cidade de Lisboa, em 1980, e o Prêmio Internacional Ennio Flaiano em 1982.
A sua atividade como escritor, no entanto, havia começado muito antes, em 1947, com o livro Terra do Pecado. Após um hiato de 19 anos, lança, em 1966, Os Poemas Possíveis, o wseu primeiro livro de poesia. Três anos depois, se tornaria membro do Partido Comunista Português. Atuando como crítico literário e jornalista, em 1975, chegaria à direção-adjunta do Diário de Notícias. Mas, já no ano seguinte, fugindo à opressão do Salazarismo, regime totalitário que dominava Portugal, passaria a viver de literatura. Num primeiro momento, como tradutor. Depois, como autor.
O Ensaio Sobre a Cegueira (1995) é outro destaque da obra de Saramago. O livro foi adaptado para o cinema em 2008 pelo brasileiro Fernando Meirelles, segundo quem Saramago não gostava de falar de literatura. Para ele, haveria assuntos mais importantes a discutir. Casado com a jornalista espanhola Pilar del Rio, Saramago deixa uma filha e dois netos do primeiro casamento.
Saramago faleceu no dia 18 de Junho de 2010, aos 87 anos de idade, na sua casa em Lanzarote onde residia com a mulher Pilar del Rio, vítima de leucemia crónica. O escritor estava doente havia algum tempo e o seu estado de saúde agravou-se na sua última semana de vida. O seu funeral teve honras de Estado, tendo o seu corpo sido cremado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa. As cinzas do escritor foram depositadas aos pés de uma oliveira, em Lisboa em 18 de junho de 2011.


Algumas das principais obras de Saramago:

Levantado do Chão (1980)
Memorial do Convento (1982)
O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984)
História do Cerco de Lisboa (1989)
O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991)
Ensaio sobre a Cegueira (1995)
As Intermitências da Morte (2005)